4 de Dezembro de 2017

Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca “Bambadinca Sta Claro”

Caros leitores,

 

Geograficamente localizada na costa ocidental da África, a República da Guiné Bissau é um pequeno país de 36.125 km2, com uma população total de 1,45 milhões de habitantes, 60% dos quais concentrados em áreas rurais (Recenseamento Geral da População e Habitação-RHPH de 2009). A vila de Bambadinca, com 6,4 mil habitantes está localizada na região de Bafatá, 120 quilómetros a leste da capital Bissau.

A taxa de acesso à eletricidade da população na Guiné-Bissau é muito baixa: segundo o Plano de Ação no Sector das Energias Renováveis[1], em 2010 a taxa era apenas 11,5%, enquanto que na região da África subsaariana esta taxa cresceu de 23% em 2000 para 32% em 2012[2]. Bambadinca era abastecida por geradores diesel até 2007 que, entretanto, se tornaram obsoletos deixando 95% da população da vila sem energia elétrica.


Neste contexto complicado, a TESE-Associação para o desenvolvimento implementou entre 2011 e 2015 o projeto “Bambadinca Sta Claro”, em parceria com a ACDB (Associação Comunitária de Desenvolvimento de Bambadinca), a DIVUTEC (Associação Guineense de Estudos e Divulgação das Tecnologias Apropriadas), a FCUL (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e a DGE (Direção Geral de Energia da Guiné Bissau), com financiamento da União Europeia (ACP-EU Energy Facility), da Cooperação Portuguesa (CICL), da Facilidade Ambiental Global (GEF), da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNIDO) e do Centro para as Energias Renováveis e Eficiência Energética da CEDEAO (ECREEE).


No âmbito do Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca – “Bambadinca Sta Claro” uma mini-rede decentralizada foi construída na vila de Bambadinca, tendo sido desenvolvido e implementado o modelo de gestão para garantir a sustentabilidade do sistema.


A solução técnica trata-se de um serviço de energia decentralizado (off-grid) constituído por uma componente dedicada à produção de energia elétrica e uma rede de transporte e distribuição dedicada à entrega da energia à comunidade. A produção é conseguida de forma híbrida, graças a painéis fotovoltaicos e a geradores diesel (Central Fotovoltaica Híbrida – CFH). O consumo noturno é satisfeito através de baterias e se for necessário pelos geradores, como backup. A CFH tem três grupos idênticos, de uma potência total de 312kWp. O sistema garante o fornecimento de energia 24h a Bambadinca, conseguindo uma baixa utilização dos geradores.


Para garantir a sustentabilidade económica e social do projeto, a gestão é sustentada por uma parceria público-comunitária e neste contexto foi criado o Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB). A comunidade local tem sido envolvida no projeto desde o início, tanto na elaboração do modelo de gestão como na definição das tarifas e dos modelos de faturação. Em paralelo, foram implementadas campanhas de eficiência energética e de segurança elétrica, a fim de sensibilizar a população em termos de comportamentos a adotar a respeito de gestão do consumo e de segurança.


O SCEB tem atualmente mais de 650 clientes, entre residenciais, comerciais e instituições, garantido eletricidade 24h/dia, principalmente graças a uma fonte de energia renovável. O acesso à energia permite aos habitantes de Bambadinca aceder de novo a várias oportunidades económicas e sociais em termos de empregabilidade e educação. O sucesso do “Bambadinca Sta Claro” demostra a viabilidade dos projetos de eletrificação decentralizada com energias renováveis na Guiné-Bissau, em consonância com as políticas do sector nas áreas de desenvolvimento de energias renováveis e de acesso à energia.


Georgios Xenakis


Responsável Setorial Energia e Coordenador de Projetos


[1] Plano de Ação Nacional no Sector das Energias Renováveis (PANER, 2010)

[2] Africa Energy Outlook, 2014